quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Introdução á história sentimental do tucano-petismo


Companheiro M. C.,

Venho acompanhando, com intenso deleite estilístico, suas argúcias retóricas na defesa da Realpolitik do Nosso Guia ― mormente no emblemático e momentoso caso do presidente do senado. Ah, é a tal da ‘governabilidade’, responde o tal de pragmatismo que lubrifica os gonzos do nosso bissecular presidencialismo de maioria. Que entre nós o cargo máximo do país seja, circunstancialmente, eletivo não muda o fato de vivermos sob a égide de um carnavalesco 3º Império. Que se alternem PT ou PSDB, udenistas ou pessedistas, café ou leite, saquaremas ou luzias, partido conservador 1 ou conservador 2 no poder, o que remanesce é este nosso capitalismo de ‘indução’ estatal.

Na América Latina, recém-convertida à democracia-sem-instituições-democráticas, o Brasil está muito mais para regra do que para exceção ― e é por isto que a nossa ‘real diplomacia’ acomoda tanto um general Stroessner, quanto um coronel Chávez; no país das idéias fora de lugar, uma ditadura militar acolhe um mafioso (Salamone) com a mesma nonchalance com que uma ‘ditabranda’ de esquerda acoita terroristas (Lollo, Battisti, etc.) Está no DNA do pragmatismo tupiniquim, companheiro.

Eis porém então senão quando, o brilhante editorialista e publisher resolve se arriscar na seara da crítica cultural e nos brinda com um saboroso ensaio acerca da arte da fraude ou da fraude na arte. Acontece, entretanto, que a arte, a política e a fraude são ramos do mesmo cepo, a representação; se representam por meio da verossimilhança e não da veracidade, que culpa têm? É da natureza do escorpião ferroar o sapo, afinal, mas é também direito do sapo se perguntar para que servem os políticos. O que faz o senado?

Há décadas a verdadeira face da política nacional vem sendo o PMDB, esse amorfo monstro do pântano fétido que emergiu da ‘redemocratização’ à brasileira. Incapaz de ser, ou fazer, oposição ― até por carecer absolutamente de algo que pareça um programa ― o maior partido brasileiro mercadeja votos, alianças e maiorias ao preço que o Sr. certamente não desconhece. Mas quem terá a coragem (e o rabo solto) de meter a fatídica bala de prata no vampiro? Eis o paradoxo em que o articulista e a nação estamos metidos: o pragmatismo, mola que move a política, as finanças e o marketing, transforma estas atividades-meio em fim em si mesmas. É o tipo de esperteza que acaba por engolir o esperto e o otário, sapos e escorpiões.

Não foi por outro motivo que o companheiro Platão baniu os poetas da sua utópica República: com suas cópias de cópias, com o temível veneno/remédio da mimese, todo aquele que representa ― e em sociedade todo mundo representa ― pode acabar servindo e/ou comendo as ‘gosminhas’ do chef Ferran Adrià, ou seja, gororoba ortomolecular temperada a pós-modernismo. Uma vez que se cria uma lei de incentivo à cultura via renúncia fiscal, a porteira está aberta para que artistas nacionais consagrados financiem seus lucrativo$ projeto$ e bancões banquem institutos culturais e até circos canadenses sem mexer no bolso (deles, claro está, basta-lhes o nosso.)

Ou bem se espinafra Maluf quando bravateia que nunca foi condenado, ou mal se escuta Chaui quando culpa a imprensa golpista no episódio do mensalão. Porque aos DEMfílicos mas demofóbicos tucanos, tadinhos, não restou sequer o grito de pega ladrão ― o ‘operador’ da maioria parlamentar estava consubstanciado na mesma e valéria pessoa! Se o sr. me permite a insolência, gostaria de fazer minhas as palavras do Comissário Zé Dirceu: “ A vida política, porém, é plena de armadilhas. Até os mais nobres e valorosos militantes podem ser arrastados a situações com as quais, no futuro, não concordem ideologicamente.” Magister dixit.

PT? Saudações! Cordialmente,
Missosso

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